Nunca o aço foi tão aplicado em um centro de pesquisas
nacional como no projeto de ampliação do Centro de Pesquisas
e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes),
da Petrobras, no Rio de Janeiro. A construção, idealizada em 2004
e inaugurada em 2010, foi projetada pelo arquiteto Siegbert
Zanettini, da Zanettini Arquitetura Planejamento e Consultoria,
em coautoria com o também arquiteto José Wagner Garcia, e
conta com cerca de 7 mil toneladas de aço em toda a sua estrutura.
Segundo Zanettini, as soluções industrializadas em aço foram
escolhidas para o projeto não só por suas contribuições à sustentabilidade
da obra, mas também por uma questão de prazo.
“Deveríamos entregar o complexo no menor tempo possível; então,
optamos por estruturas pré-fabricadas para atender ao prazo exigido.
Como essas soluções permitem uma construção a seco, limpa
e não requerem grandes espaços para a estocagem de materiais,
transformamos a obra em um imenso canteiro de montagem e
entregamos o conjunto em três anos”, detalha o arquiteto. Apenas
as fundações, vigas baldrames e estruturas moldadas in loco em
concreto foram executadas de forma convencional no canteiro.
Radiografia do projeto
Feito em estrutura radial com 75 m de diâmetro, o Centro de
Convenções localiza-se próximo à entrada do complexo e conta
com uma cobertura secundária de sombreamento em membrana
retesada (tensoestrutura) sobre a recepção, salas de reuniões,
video-conferências e eventos. A estrutura metálica da tensoestrutura
é formada por 11 módulos, sendo cada um composto por arcos
tubulares calandrados dispostos em planos radiais. “Cada plano é sustentado internamente por um mastro
tubular vinculado ao solo e aos arcos de forma
articulada. Externamente, duas escoras tubulares
inclinadas que se apoiam na cobertura
cumprem este papel”, explica Zanettini.
Cobertura em aço
e em balanço foi
projetada como
uma espécie
de "árvore
metálica" com
aberturas laterais
para assegurar
ventilação cruzada
à edificação
central aliviando a
carga térmica do
conjunto.
“Uma estrutura espacial com perfis tubulares
e chapas metálicas termoacústicas foi
projetada para sombreamento dos espaços da cobertura do prédio central. Nas extremidades,
os beirais receberam chapas metálicas
perfuradas como cobertura”, esclarece Zanettini,
que reforça que a montagem da estrutura
metálica foi realizada em uma sequência lógica
de pilares, vigas e lajes steel deck. “As árvores
metálicas com cobertura em telha zipada
vieram por último.”
Para a engenheira Heloísa Martins Maringoni,
da Companhia de Projetos, empresa responsável
pelo projeto estrutural do Cenpes,
tanto o edifício central, com seus balanços e
cobertura arbórea, quanto o Centro de Convenções
com estruturas tensionadas, merecem
destaque. “São estruturas sofisticadas, de
uma complexidade muito grande. As varia-
ções propostas não eram convencionais, e por
isso, além do uso de softwares de cálculo, também
desenvolvemos rotinas específicas para
o pré-dimensionamento e detalhamento das
mesmas”, garante.
Laboratórios sustentáveis
Nos laboratórios, dispostos de forma transversal
e abaixo do edifício principal, o aproveitamento
de recursos naturais, assim como
as soluções em aço, também se repetem. A
estrutura de aço segue uma modulação de
10 x 10 m em todos os laboratórios e foi concebida
de forma a permitir total flexibilidade do
layout interno, que pode ser modificado sem
interferências na estrutura. As lajes alveolares
protendidas que compõem o piso são apoiadas
nas vigas de aço e dispõem de espaço para passagem
de utilidades formando um piso técnico.
A superestrutura metálica suporta também
pipe-racks, a cobertura de sombreamento e os
painéis fotovoltaicos. “As estruturas são em
vigas I e o plano de cobertura dos laboratórios
tem vigas mistas com vãos de 10 m, espaçadas
a cada 2,5 m, para a adoção do sistema de
forma-laje. Os perfis metálicos totalizam 1.762
toneladas de aço”, informa Zanettini.
Já os painéis fotovoltaicos, instalados sobre
a cobertura dos laboratórios nas regiões com maior incidência solar, surgem orientados para
o norte com inclinação de 22°50’ para assegurar
uma fonte alternativa energética limpa e renovável
ao conjunto. Além da energia natural,
os laboratórios recebem iluminação artificial
complementar dimerizável, com acionamento
automatizado controlado por sensores.
E tal como no edifício central e no Centro
de Convenções, o aço também surge de forma
diferenciada no Centro de Realidade Virtual,
à esquerda do terreno. Lá foi construída uma
estrutura geodésica elíptica de 35 x 20 x 14 m,
formada por 960 triângulos, 1.623 barras e 477
nós, utilizando 345 toneladas de aço. “As peças
da estrutura já chegaram prontas e sua montagem
ocorreu de forma simultânea para que
houvesse um significativo ganho de tempo
na execução. A montagem das estruturas
levou apenas um ano”, pontua o arquiteto.
O conjunto ganhou o Prêmio Green Building
Brasil, em 2011, e o Green Nation Fest,
na categoria arquitetura sustentável no ano
seguinte. (E.Q.)
Fonte: Revista Arquitetura & Aço (edição 41)
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